Colegas,
18 de outubro de 2022. Dia de celebrarmos nossa dedicação ao belo trabalho médico que exercemos.
Até adoecemos para desadoecer o outro, o que traz mérito indelével ao nosso esforço.
Mas, vivemos um momento difícil.
Não há como evitar a reflexão sobre esse específico dia do médico.
O desfecho de uma das mais marcantes eleições brasileiras se aproxima.
Qualidades controversas e defeitos explícitos dos candidatos testam diariamente nossa capacidade de consumir textos e vídeos, em conteúdos de lastro sempre suspeito.
Num caldo turvo de atrocidades ambidestras, nosso conselho federal dá sinais de comportamento político, contribuindo para a polarização patológica até mesmo do nosso dia.
Este mesmo conselho, neste mesmo caldo, retrocede vergonhosamente restringindo o acesso à Cannabis medicinal, desumanizando milhares de brasileiros que tiveram suas vidas por ela dignificadas.
Ajudamos a cuidar da saúde de uma sociedade acelerada que mata sua sede por riqueza com goladas cada vez mais fartas de medicamentos químicos.
Medicamentos, procedimentos e próteses caríssimos compõem um modelo neoliberal contemporâneo de seleção artificial que prolonga quantidade e qualidade de vida dos que podem pagar por eles.
A desigualdade se manifesta nos vazios assistenciais, quer seja no âmbito individual ou coletivo.
Muitas vidas ficam no vazio, seja por não terem acesso ao melhor da tecnologia médica (onde quer que estejam), seja por estarem em locais onde não se tem acesso a tecnologia médica nenhuma.
Há muito o que se criticar e melhorar. Mínimas condições de trabalho e remuneração justa são imperativos médicos categóricos.
Contudo, quando mantemos condutas cegamente corporativistas, seguimos em parte responsáveis por aquilo que criticamos. Corporativamente, nossa privilegiada e ameaçada classe chega a se vender como “sucateada”, enquanto milhões padecem sem acesso a especialistas. A realidade de saúde que se mostra principalmente fora dos grandes eixos urbanos não se assemelha àquela positivamente propagandeada nas campanhas políticas.
Que nós, médicos e médicas, sejamos sempre reconhecidos por nosso esforço, pela gratidão das vidas por nós amparadas.
Que consigamos manter nosso nobre trabalho, abrandando dentro de nossos limites o sofrimento de qualquer cidadão que de nós precisar, inclusive o nosso próprio.
Parabéns pelo nosso dia!
4 respostas
Pessoas “humanas”, humildes e honestas como vc não tem o que temer diante da força divina necessária para enfrentar o dia a dia com uma profissão maravilhosa e em benefício do nosso semelhante. Crises vem e vão e a ideologia política podre nunca vai se sustentar. Abraços Léo.
Obrigado, Marcelo!
Grande abraço!
Parabéns por seu texto, por sua postura, pela defesa do uso medicamentoso da Cannabis, por toda a sensibilidade para com as dores do mundo. Parabéns pelo médico que é. Parabéns pelo Dia do Médico!
Muito obrigado, Anne!